Empreendedorismo feminino: as mulheres no franchising
por Ivanir França
O dia 26 de agosto de 1920 foi um marco para a história da luta da mulher por direitos iguais. Pela primeira vez as norte-americanas puderam votar. Para marcar a data e incentivar a discussão acerca da desigualdade, foi instituído o Dia Internacional da Igualdade Feminina.
Além do voto, muitas outras vitórias foram alcançadas, incluindo a entrada no mercado de trabalho. Porém, as mulheres ainda enfrentam desigualdade salarial; maior propensão a sofrerem assédio moral nas empresas e ainda há restrições em algumas áreas à mão de obra feminina.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre a década de 1940 e 1990, as mulheres ativas no mercado de trabalho passaram de 2,8 milhões para 22,8 milhões.
Em 1940, a maior parte delas estavam no setor primário da economia. Cinquenta anos depois, 74% passaram para atividades do setor terciário, como serviços de saúde, educação ou domésticos.
E para entendermos como esse processo mudou ao longo do tempo, vamos abordar neste conteúdo:
1 — O empreendedorismo feminino no Brasil
2 — Cenários do empreendedorismo feminino
3 — Características: quem são as empreendedoras no Brasil
4 — As mulheres no franchising, pioneirismo e evolução
5 — Mulheres, franchising e tecnologia
O empreendedorismo feminino no Brasil
Com o protagonismo feminino nos últimos anos, as mulheres vêm aos poucos assumindo, ainda que de forma tímida, a liderança de empresas e também do mercado de trabalho.
A tendência, segundo dados, é que haja mudanças progressivas, uma vez que as mulheres buscam empreender mais, são mais escolarizadas e mais jovens. Dados do Sebrae apontam que entre 2016 e 2018 houve um crescimento demográfico de 30% no número de mulheres empreendedoras.
Em 2017, segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), patrocinada no Brasil pelo Sebrae, as mulheres são a maioria entre os novos empreendedores. Representando 51% das novas empresas.
Contudo, devido a fatores externos como relacionamentos de mercado e linhas de crédito especializadas ainda restritas, as mulheres ficam atrás em negócios estabelecidos. Apenas 44% prosperam seus negócios, contra 56% dos homens.
A boa notícia é que o número é 2% maior se comparado a 2016 (42%). Os dados positivos são atribuídos à tendência das mulheres investirem mais em capacitação e ter mais acesso à informação. O que, segundo o GEM, pode ajudar na construção de empresas mais sólidas e lucrativas.
Cenários do empreendedorismo feminino
Dentro das organizações, as mulheres, em sua maioria (55%), ocupam cargos técnicos e apenas 38,2% estão na liderança dos empreendimentos. Em nível mundial, o Brasil está na 6ª posição entre os países com maior avanço e incentivo ao empreendedorismo feminino.
Ao encontro da mudança corrente, torna-se comum encontrar notícias em que mulheres estão assumindo o papel executivo no lugar de homens. Um caso recente é o de Rachel Maia, nomeada CEO da Lacoste Brasil.
Com longa carreira, Rachel foi responsável pela chegada ao país da Tiffany e Co, onde atuou como CFO por cinco anos e dois como CEO.
Márcia Tristão Oliveira, franqueada da Delivery Much (DM) em Paranaguá, comenta que o cenário de empreendedorismo é sempre desafiador. Para ela, isso independe se para homem ou mulher.
Ao olhar para o cenário de cidades pequenas. Mesmo com algumas dificuldades, relacionadas à encontrar capacitação e ecossistema ativo, um dos atrativos nos grandes centros, a empreendedora aponta como vantagem a relação mais próxima com outros empreendedores e com proprietários de restaurantes.
No caso específico, de uma franquia de alimentação, a possibilidade de estar sempre próximo aos donos dos estabelecimentos para fomentar e gerar negócios de impacto para a cidade.
Características: quem são as empreendedoras no Brasil
De acordo com o estudo Women Entrepreneurs: passion, purpose and perseverance (Mulheres Empresárias: paixão, propósito e perseverança), realizado pela KPMG, mais de 60% das mulheres empreendedoras mencionaram o trabalho duro, a propensão para assumir riscos, a capacidade de perseverar em tempos de crise e o talento para fazer contratações inteligentes são as principais características necessárias para ter sucesso no trabalho.
Márcia levanta também a necessidade de avaliar quais são os pontos fracos e fortes de cada empreendedora. É preciso focar-se no fortes e em paralelo trabalhar os fracos. Além disso, aponta: “a seriedade, o respeito, a determinação e a honestidade são características que sempre devem estar presentes”.
O importante, relata Márcia, é que as mulheres entendam que podem sim empreender e que isso pode dar certo. O ponto central é sentir-se feliz. “Se trabalhar fora como empregada a fizer feliz, opte por isso. Se, a escolha for cuidar de casa e dos filhos, opte por isso e seja feliz”, completa e finaliza: “acredito que o empreendedorismo feminino traz a esse mundo um outro olhar, um pouco mais equilibrado talvez, que foca na relação Ganha-Ganha a longo prazo”.
As mulheres no franchising, pioneirismo e evolução
O pioneirismo criativo das mulheres empreendedoras está conectado com a história do franchising. A mais antiga rede de franquias de serviços do mundo foi criada por uma mulher: Martha Matilda Harper. Em 1891, Martha abriu seu salão de beleza em Nova York. Seus métodos ficaram famosos rápido, em especial pelos inovadores produtos de cuidados com a pele e os cabelos.
Devido a grande procura de outras mulheres, Harper começou a ensinar suas técnicas mediante um contrato de franchising. Através de treinamentos, as mulheres aprovadas ganhavam o direito de exploradas com exclusividade determinadas regiões, usando e vendendo exclusivamente os cosméticos Harper’s.
Em 1920 a rede chegou a ter mais de 500 unidades espalhadas pelos Estados Unidos, Alemanha e Escócia. O formato atual de atuação das franquias, usado no mundo todo, carrega muitos princípios criados por Martha Matilda Harper.
acredito que o empreendedorismo feminino traz a esse mundo um outro olhar, um pouco mais equilibrado talvez, que foca na relação Ganha-Ganha a longo prazo.
Márcia Tristão Oliveira, franqueada da Delivery Much
Atualmente, a presença feminina ainda não é predominante, mas continua crescendo exponencialmente a cada ano. Em 2015, a Associação Brasileira de Franchising (ABF) divulgou durante o 3º Simpósio Mulheres do Franchising o estudo “Liderança Feminina no Franchising”. O levantamento mostrou que, em média, 49% das unidades próprias ou franqueadas do Brasil são dirigidas por mulheres.
Quanto as franqueadoras, foi possível observar que quanto mais nova a empresa, maior a participação feminina. Naquelas com até cinco anos de funcionamento, mais de 40% das funções executivas são desempenhadas por mulheres. Já nas redes com dez anos ou mais, o número cai para 31%.
Os principais motivos apontados pelas mulheres que optam pelo franchising estão: suporte para a operação dos negócios, apoio na localização para a instalação do negócio, segurança para estar no mercado e a possibilidade de estarem mais próximas da família.
A Consultoria Rizzo Franchise mostrou em 2016 um dado importante sobre a força feminina no franchising brasileiro: franquias com mulheres à frente faturam mais do que aquelas que têm homens como proprietários ou gestores.
Mulheres, Franchising e tecnologia
Voltando aos dados do Sebrae, nos últimos anos, as mulheres são responsáveis pela criação de 51% das novas empresas no país. Muitas destas empresas são focadas em tecnologia ou mesclam a tecnologia em sua operação.
Márcia Tristão Oliveira, franqueada da Delivery Much (DM) em Paranaguá, é um exemplo deste protagonismo. A franquia administrada pela empreendedora é uma das mais efetivas da DM.
Para ela, um ponto essencial é ver os contratempos como oportunidades. Ao olhar desta forma, torna-se mais fácil superar as adversidades.
Uma ajuda essencial para superar as adversidades é o apoio recebido da Delivery Much. Márcia conta que a franquia da DM é seu primeiro empreendimento e vê com muito bons olhos o suporte recebido da franqueadora.
“Você já recebe um modelo pronto, com histórico do que funciona e o que não funciona. Não é uma fórmula pronta, é uma base, você tem que descobrir o que funciona ou não na sua cidade. Quando a franqueadora cresce e se torna uma marca mais conhecida, você vai junto na onda”, enfatiza Márcia.
Além disso, ao ser questionada, sobre por que optou pela franquia da DM, a empreendedora traz a flexibilidade do trabalho e a possibilidade de poder sugerir processos e o suporte full time. Porém, o que mais chamou sua atenção foi aliar alimentação e tecnologia. Um caminho sem volta, segundo ela.
“Todas as pessoas precisam comer e pode-se considerar que a internet e os aplicativos estão cada vez mais presentes no dia a dia para todas as atividades, inclusive pedir comida”, finaliza.